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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Trema



Vejam o que está circulando na internet sobre o trema:

“Despedida do Trema
Eu, Trema, estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava ali, na Anhangüera, nos aqüíferos, nas lingüiças, por mais de quatrocentos e cinqüenta anos. Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica, e eu simplesmente caí fora. Fui expulso para sempre do dicionário. Seus ingratos! Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes! Os outros pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio. A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela. O dois pontos disseram que sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto eles ficam em pé. Até o cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C medroso que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra. E também tem aquele obeso do O e o anoréxico do I. Desesperado, tentei chamar o ponto final para trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas? A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K e o W, "Kkk" para cá, "www" para lá. Até o jogo da velha, para o qual ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter, que erroneamente, aliás, alguns afirmam que se deveria chamar TÜITER. Chega de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüências! Chega de piadinhas dizendo que estou "tremendo de medo". Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa. Foi bom enquanto durou. Vou para o alemão, pois lá eles adoram os tremas. E um dia vocês hão de sentir saudades de mim. Não vão agüentar! Ver-nos-emos nos livros antigos. Parafraseando Getúlio Vargas, saio da língua para entrar na História.
Adeus,
Seu Trema”

Como esse texto está circulando pela internet, falemos um pouco sobre o trema. 

O trema não é um acento, mas um sinal diacrítico usado em diversas línguas, como o alemão, o turco, o romeno, entre outras. Sinal diacrítico é o sinal gráfico que se acrescenta a uma letra para dar-lhe novo valor fonético e/ou fonológico.  

Em Portugal, o trema já não era usado desde a reforma ortográfica de 1945. No Brasil, deixou de ser usado na escrita, mas não na pronúncia, a partir de 1º de janeiro de 2009, quando entrou em vigor o  mais recente Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.  

Na língua portuguesa, o trema era usado apenas nos grupos GUE, GUI, QUE e QUI para marcar o U pronunciado e átono dos vocábulos. Por isso, não havia trema em “queijo”. Nessa palavra, o Q e o U formam um dígrafo (grupo de letras que representa um único fonema), e o U não é pronunciado, já que não se diz /kueijo/. Por isso, igualmente, palavras que contêm os grupos GUA (água), GUO (águo), QUA (aquarela) e QUO (aquoso) jamais tiveram trema. Quando o U era pronunciado e tônico, usava-se o acento agudo, como ocorria no presente do indicativo do verbo “arguir”:

Eu arguo
Tu argúis
Ele argúi
Nós argüios
Vós argüis
Eles argúem

Note que, na segunda e terceira pessoas do singular, o U, além de ser pronunciado, é tônico, razão pela qual recebia, até janeiro de 2009, acento agudo, enquanto a primeira e segunda pessoas do plural recebiam trema porque apresentam U pronunciado e átono. Agora, quando flexionado no presente do indicativo, esse verbo não mais apresenta acento agudo nem trema. 

Vale ressaltar, no entanto, que a pronúncia das palavras que continham trema permanece a mesma, ou seja, continuaremos a comer “lingüiças”, a ver “pingüins”, a receber “qüinqüênios” e a ter de “agüentar” muita coisa...

Um abraço e até a próxima!
Sandra Helena