quinta-feira, 15 de março de 2012

Ambiguidade causada por "o(a) mesmo(a)" ou "o(a) referido(a)"


Você já prestou atenção à placa afixada na porta dos elevadores? Ela é fruto da Lei nº 9.502/97. Nessa placa, consta a seguinte recomendação:

“Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar.”

O problema dessa advertência está no uso de o mesmo que enfeia a mensagem e, em alguns casos, pode causar ambiguidade. Não se trata, portanto, de erro, mas sim uma questão de estilo. Veja como seria fácil resolver esse problema:

“Antes de entrar, verifique se o elevador encontra-se parado neste andar.”

Ou seja, para garantir a coesão entre a primeira e a segunda oração e melhorar a mensagem, bastaria retirar a expressão o mesmo e substituí-la pela palavra elevador. Assim, a recomendação que somos obrigados a ler sempre que estamos diante das portas de um elevador ficaria mais bem escrita.

Embora não seja o caso da placa do elevador, o uso de o(a) mesmo(a), além de enfear a mensagem, pode gerar ambiguidade, especialmente quando há mais de um elemento ao qual o mesmo pode se referir. Observe este exemplo que me foi enviado por um de meus alunos:

“Para que os proponentes possam captar recursos para os seus projetos usando os benefícios das leis de incentivo, é necessário que os mesmos sejam avaliados pelas comissões de análise de projetos.”

Nesse caso, não nos é possível afirmar se os mesmos se referem a proponentes ou a projetos. Afinal, as comissões deverão avaliar os proponentes ou os projetos, antes de liberar os recursos? Impossível saber!

Essa é a razão pela qual os estudiosos da língua portuguesa recomendam que expressões como o(a) mesmo(a) ou o(a) referido(a) não sejam empregadas na escrita.

Um abraço e até a próxima.

Sandra Helena

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Ambiguidade

Em uma matéria de 15/02/2012, publicada em um jornal de grande circulação na cidade de São Paulo, havia a seguinte passagem:

“Steve Jobs, cofundador da Apple que morreu no ano passado, chegou a criticar tablets de tela menor, dizendo que eram grandes demais para competir com um smartphone e pequenos demais para competir com o iPad.”

Temos aí dois problemas. O primeiro e mais importante é a ambiguidade causada pela distância entre o pronome relativo e seu antecedente (termo ao qual o pronome se refere). Da forma como está escrito, temos a impressão de que foi a Apple que morreu e não um de seus fundadores.

Para eliminar essa ambiguidade, basta fazer a seguinte alteração:

“Steve Jobs, que morreu no ano passado e foi cofundador da Apple, chegou a criticar tablets de tela menor, dizendo que eram grandes demais para competir com um smartphone e pequenos demais para competir com o iPad.”

O segundo problema diz respeito à ausência de itálico para destacar as duas palavras – tablets e smartphone - que não fazem parte do léxico da língua portuguesa. A menos que a palavra tenha sido aportuguesada, como ocorreu com estresse e tantas outras, precisamos fazer uso de itálico, quando digitarmos, ou aspas, quando manuscrevermos vocábulos de origem estrangeira.

Um abraço e até a próxima.

Sandra Helena

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

“A nível de” ou “ao nível de”?



Já se falou na televisão que um determinado jogador de futebol estava “com uma contusão a nível de joelho”. Nesse caso, o correto seria afirmar que o jogador estava “com uma contusão no joelho” e não “a nível de joelho”.

A expressão a nível de é um modismo horroroso que deve ser evitado. Pode ser substituída por em/no/na, como no exemplo acima; por locuções como de acordo com/relativamente a/no tocante a/com referência a/na esfera/no âmbito/na área (“A nível de economia, o país vai de vento em popa” por “Na área econômica, o país vai de vento em popa”); por um adjetivo (“Reunião a nível de gerência” por “Reunião gerencial”; “Resolução a nível de governo” por “Resolução governamental”); ou pode simplesmente ser suprimida em prol do português bem falado e bem escrito.

Ao nível de significa à mesma altura de/à altura de/no mesmo plano que, por isso, seu emprego na oração “Guarujá está ao nível do mar” está perfeitamente correto.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Qual é a abreviatura de “horas”?



Segundo o Quadro Geral de Unidades de Medida do INMETRO, de 2007, o símbolo ou a abreviatura para “hora” é apenas e tão somente h, com letra minúscula e sem ponto final, a menos que essa abreviatura venha em final de frase ou período. Exemplo:

O jantar normalmente é servido às 20h.

Nesse caso, o ponto que aparece imediatamente após o símbolo de horas corresponde ao sinal de pontuação (.) com que se encerra uma frase ou um período e não ao ponto que se usa logo após algumas abreviaturas.

Retomando nosso exemplo, caso o jantar tivesse sido servido às 20h30, poderíamos grafar as horas de duas formas:

O jantar normalmente é servido às 20h30.

Ou ainda:

O jantar normalmente é servido às 20h30min.

Também nesse caso, o ponto que aparece imediatamente após a abreviatura de “minuto” corresponde ao ponto final, já que, tal como ocorre em relação à “hora”, o símbolo que indica “minuto” (e mesmo o símbolo que indica “segundo”, que é apenas s) não deve vir acompanhado do ponto indicativo de abreviatura.

Não devemos, no entanto, usar dois pontos entre horas e minutos ou entre minutos e segundos, porque o uso de dois pontos corresponde ao sistema usado pela língua inglesa para separar horas, minutos e segundos (20:30:50) e não ao sistema da língua portuguesa.

Optemos, portanto, pelo nosso próprio sistema!

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena


terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Suicidar ou suicidar-se?



Embora o sui signifique de si e equivalha ao prefixo grego autós, o verbo suicidar-se sempre foi pronominal, ou seja, sempre fez-se acompanhar do pronome reflexivo se.

Para justificar a presença do pronome se em um verbo que já traz esse pronome em seu prefixo, José Maria da Costa, em seu Manual de Redação Profissional (2007), coloca duas citações de dois importantes estudiosos da língua portuguesa – Cândido de Figueiredo e Domingos Paschoal Cegalla –, citações essas que transcrevo abaixo:

“[...] em suicidar já consideramos de fato uma ação reflexa; mas como esse verbo, sem o pronome se, nunca existiu em português, pouco importam as nossas filosofias, e temos de aceitar os fatos incontestáveis da linguagem. Suicidar-se é fato corrente e constante nos vários períodos da nossa língua, e não temos que corrigi-lo. Aquela suposta redundância não é coisa insulada na história da língua.” [CF]

“a língua nem sempre se submete ao jugo da lógica.” [DPC]

Aliás, para confirmar a citação de Cegalla, basta nos lembrarmos de que, etimologicamente falando, o sentido do vocábulo caligrafia é boa letra, bom estilo e nem por isso é incorreto ou redundante falar ou escrever Ele tem um boa (ou bela) caligrafia, visto que se perdeu por completo o sentido etimológico dessa palavra.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

Mega-sena ou megassena?



Segundo as novas regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, em vigor no Brasil desde 1º de janeiro de 2009, o vocábulo megassena deveria ser grafado sem hífen e com dois s, já que, pela nova regra, as palavras cujo primeiro elemento termina em vogal e o segundo começa com s ou r devem perder o hífen e ter o s ou o r dobrados. No entanto, até hoje, os volantes disponíveis em todas as casas lotéricas do país continuam a apresentar a grafia antiga.

Embora saibamos que, no Brasil, teremos até 31 de dezembro de 2012 para adotarmos as novas regras do Acordo, já não é sem tempo de a grafia de megassena ser atualizada.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

“Absolutamente” é positivo ou negativo?


A maioria das pessoas acredita que o advérbio de modo absolutamente tem significado positivo em português e negativo em inglês. No entanto, relativamente à língua portuguesa (já que a língua inglesa foge do escopo deste blog), não é tão simples assim. Ao contrário do que se imagina, em português, absolutamente não é sinônimo da expressão de forma nenhuma. Uma simples consulta ao Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa versão 2009.3 revela que esse advérbio também pode adquirir os significados afirmativos de sem dúvida que sim ou certamente que sim.


Segundo o Dicionário de Questões Vernáculas, de Napoleão Mendes de Almeida (Caminho Suave, 1981), jamais se deve interpretar que esse advérbio, por si só, indica uma ideia de negação ou de afirmação. Seu uso deve adquirir um sentido confirmativo da ideia de negação ou de afirmação que o antecede. Quando, no entanto, seu uso não esclarecer o sentido em que está sendo empregado, deve-se acrescentar-lhe alguma palavra ou expressão negativa ou afirmativa que torne claro o seu sentido. Exemplos:

Absolutamente não.

Ou mesmo:

Absolutamente sim.


Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

“O menino foi apreendido pela polícia”?


Assistindo a um programa de televisão exibido todas as manhãs, ouvi, pela enésima vez, de um repórter a seguinte afirmação:

“O menino foi apreendido pela polícia.”

“Apreendido” ou preso/capturado/aprisionado/encarcerado pela polícia?

O verbo apreender pode ser usado para significar assimilar mentamente, pegar (objetos), inquietar-se, confiscar (objetos). Não se refere, portanto, à captura de pessoas, mas sim à apreensão de objetos. Pessoas não deveriam ser apreendidas como mercadorias, mas sim presas ou capturadas. No entanto, nesse caso, o uso do verbo apreender em substituição aos verbos prender/capturar deve-se ao fato de que, segundo o ECA-Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990), o menor não comete crime, mas sim ato infracional análogo a crime, sendo assim, não se pode dizer que o menor foi preso ou capturado, mas apenas que foi apreendido. De qualquer modo, a terminologia adotada pelo ECA é bastante infeliz.
  
Outra “pérola” que tomou conta da mídia televisiva é o uso do verbo aparecer na forma reflexiva:

“Fulano fez isso para se aparecer.”

Ocorre que o verbo aparecer, com o sentido de mostrar-se/fazer-se notar/brilhar, definitivamente não é reflexivo e, além disso, é intransitivo, ou seja, não necessita de objeto direto nem indireto:

“Ela faz tudo para aparecer.”

Não sei quem foi o primeiro que usou essas “pérolas”, mas compete a cada um de nós, amantes do vernáculo, evitar que essas pragras se espalhem por aí.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Crudivorismo


Você sabe o que é crudivorismo? É o nome que se dá ao comportamento do crudívoro, ou seja, da pessoa que prefere ou aprecia alimentos crus. Há inclusive vários livros sobre essa prática.


Já que estamos falando de hábitos alimentares, você sabe o que é vegano(a)? Do inglês vegan, que é uma curruptela de vegetarian, o veganismo é mais uma filosofia de vida do que um hábito alimentar, pois se baseia no direito dos animais irracionais  - ou animais não humanos, ou sencientes (os quais percebem pelos sentidos), como preferem chamá-los. Segundo a Wikipédia, o termo foi criado em 1944 por um grupo dissidente de vegetarianos que, por razões ideológicas, decidiram romper com a The Vegetarian Society e fundar a The Vegan Society.

Vegano(a) é, portanto, o nome que se dá ao vegetariano que se abstém de quaisquer produtos (alimentares ou não) de origem animal, incluindo gelatina, queijos, ovos, mel, peixe, entre outros. Relativamento a alimentos, os veganos consomem apenas cereais, frutas, legumes, hortaliças, algas, cogumelos ou outros alimentos, industrializados ou não, que não contenham quaisquer ingredientes de origem animal.

Vale ressaltar, no entanto, que vegano e veganismo ainda não fazem parte do VOLP – Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela Academia Brasileira de Letras, nem da última versão do Dicionário Houaiss, versão essa publicada em 2009 e atualizada segundo as novas regras ortográficas. Isso significa que, oficialmente, esses dois vocábulos ainda não fazem parte do léxico da língua portuguesa. Somente depois de passarem por uma espécie de "quarentena", ou seja, por um período considerável de tempo que determina se os vocábulos foram incorporados à língua ou se não passaram de modismos, eles serão dicionarizados.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Mais ou mas?


Recebi uma mensagem eletrônica com a seguinte sentença:

“A despedida não é o fim de uma amizade, mais o começo de uma grande saudade.”


Quem escreveu essa sentença pela primeira vez, visto que ela aparece em diversos sites, confundiu mas, conjunção coordenativa adversativa, com mais, que corresponde a várias classes de palavras.

A conjunção mas equivale a porém, contudo, todavia, entretanto e serve para ligar ideias opostas. Exemplo:

Os alunos não estudaram para a prova, mas tiraram boas notas.

Já o mais pode corresponder às seguintes classes gramaticais:
a) advérbio, quando for antônimo de menos ou puder ser substituído por acima de ou antes;
b) substantivo, quando antecedido de artigo;
c) pronome, quando der ideia de maior quantidade ou puder ser substituído por outros;
d) preposição, quando puder ser substituído por com)
e) conjunção, quando der ideia de adição e, por essa razão, puder ser substituído pela conjunção coordenativa aditiva e.

Vejamos alguns exemplos de sua utilização:

Hoje, corrigi mais de 200 provas. (advérbio)

Preciso cuidar da saúde, o mais pode esperar. (substantivo)

Preciso de mais dinheiro para comprar minha casa. (pronome)

Ele mais a noiva viajarão no feriado. (preposição)

Dois mais dois são quatro. (conjunção)

Portanto, a forma correta da sentença que me foi enviada por e-mail é:

“A despedida não é o fim de uma amizade, mas o começo de uma grande saudade.”

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

“Rapazes sem banheiro”?



Um colega viu uma placa com os seguintes dizeres:

"Aluga-se quartos para rapazes sem banheiro”.

Temos aí dois problemas: a falta de concordância e a ambiguidade. Aliás, é justamente a ambiguidade que a torna tão divertida. Rapazes sem banheiro?

Essa oração está na voz passiva sintética. A voz passiva pode apresentar-se na forma analítica ou sintética. Colocando essa oração na voz passiva analítica, temos:

Quartos são alugados para rapazes.

Nessa oração, o sujeito é quartos. O que são alugados? Quartos. Para rapazes é o objeto indireto. São alugados para quem? Para rapazes.

Para transformarmos a voz passiva analítica na voz passiva sintética, é muito simples: devemos desconsiderar o verbo auxiliar (ser/estar) e acrescentar ao verbo principal o pronome apassivador se. O verbo auxiliar servirá apenas para indicar o tempo/modo (são = presente do indicativo) e o número (são = plural) do verbo principal que constituirá a voz passiva sintética.

Portanto, para corrigirmos a falta de concordância do exemplo, basta colocarmos o verbo no plural, fazendo-o concordar com seu sujeito: Alugam-se quartos que equivale à forma passiva analítica Quartos são alugados.

Já a ambiguidade de rapazes sem banheiro seria perfeitamente evitada com o simples deslocamento da expressão sem banheiro. Se essa expressão vier imediatamente após a palavra quartos, a ambiguidade desaparecerá. Veja: 

Alugam-se quartos sem banheiros para rapazes.

Um abraço e até a próxima.

Sandra Helena

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Cujo ou no qual?


No jornal da Globo de 15/11, o presidente de um conselho de pesquisa disse o seguinte:

"São todos temas de pesquisa na qual a solução está diante de nosso olhos."

Mais uma vez o problema é o mau uso do pronome relativo que compromete a coesão da sentença. Nesse caso, o autor da frase deveria ter usado o cuja e não o na qual, porque este faz referência ao termo antecedente, e aquele faz referência ao termo consequente, ou seja, ao termo que vem imediatamente depois dele. Como esses dois pronomes relativos são excludentes, quando se usa um, não se pode usar o outro.

O cujo (ou cuja) deve ser usado sempre que houver uma ideia de posse. No exemplo, há essa ideia de posse, pois a sentença se refere à solução da pesquisa. A preposição da indica o possuidor (da pesquisa) e a coisa possída (solução). 

Além de indicar posse, o cujo precisa ter antecedente e consequente diferentes e jamais deve ser seguido de artigo definido (o(s), a(s)), porque já traz esse artigo (cujo, cuja) dentro de si.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

domingo, 6 de novembro de 2011

Onde ou aonde?


Qual é a diferença entre onde e aonde? A diferença é a seguinte: o onde, além de pronome relativo, pode ser um advérbio interrogativo usado em interrogações diretas ou indiretas. Exemplos:

Onde é a saída? (interrogativa direta)
 Gostaria de saber onde ficarei hospedada. (interrogativa indireta)

Já o aonde, embora também seja um advérbio de lugar, equivale a expressão para onde e deve vir acompanhado de um verbo de ação que indica movimento. Exemplo:

Aonde você vai?

Observe que é perfeitamente possível substituir o aonde por para onde:

Para onde você vai?

Mas, se retomarmos os dois primeiros exemplos  - Onde é a saída? e Gostaria de saber onde ficarei hospedada -, notamos que, nesses casos, não podemos substituir o onde por para onde, sob pena de comprometermos o sentido das duas orações. Observe como elas ficariam completamente sem sentido:

Para onde é a saída?
Gostaria de saber para onde ficarei hospedada.

Portanto, quando quisermos atribuir o sentido de para onde, devemos usar aonde e não onde.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

sábado, 29 de outubro de 2011

Bom dia, boa tarde, boa noite em e-mail



Atualmente, generalizou-se a prática de iniciar um e-mail com bom dia, boa tarde ou boa noite. Parece que as pessoas não se deram conta de que o emissor da mensagem não tem domínio sobre o horário em que sua mensagem será lida pelo receptor. Este pode ler uma mensagem enviada pela manhã à tarde, à noite ou mesmo de madrugada, e, nesse caso, o cumprimento do emissor não lhe fará qualquer sentido. Justamente por essa razão, é totalmente inadequado começar uma mensagem eletrônica por bom dia, boa tarde ou boa noite.

As pessoas que usam esse tipo de cumprimento em e-mails argumentam que o fazem para serem educadas. Ocorre que a polidez na comunicação escrita não é garantida pela presença ou ausência desse tipo de cumprimento, mas sim pela utilização de expressões ou fórmulas de etiqueta linguística como por favor, por gentileza, se me permite etc.; de verbos como achar, acreditar, pensar, parecer etc.; de advérbios de dúvida como provavelmente, talvez, quiçá, por ventura, eventualmente, empregados, na maioria das vezes, com verbos no modo subjuntivo.

Aliás, a combinação dos advérvios de dúvida com o subjuntivo ocorre porque esse modo verbal tem justamente a finalidade de expressar dúvida, desejo, hipótese, subjetividade, ao contrário do indicativo que expressa certeza e objetividade.

Então, como introduzir uma mensagem eletrônica? É simples: comece pelo nome da pessoa a quem a mensagem é dirigida, acompanhado ou não dos adjetivos Prezado(a) (ou Prezado Sr./Prezada Srª) ou Caro(a) (ou Caro Sr./Cara Srª), dependendo do maior ou do menor grau de intimidade que houver entre você e seu destinatário, bem como do grau de formalidade de sua mensagem.

Portanto, evite iniciar mensagens eletrônicas com bom dia, boa tarde ou boa noite, pois esse é mais um vício de linguagem totalmente disparatado como outros tantos que se espalham como praga pelo Brasil.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

“Através de” ou “por meio de”?



Não são poucas as pessoas que têm dúvida em relação ao emprego do através de e do por meio de. É simples: através de exige sempre a preposição de e significa por dentro de, de um lado a outro, pelo meio de, por entre, devendo ser empregado apenas quando se deseja remeter à ideia de atravessar de um lado a outro. Exemplo:

Olhou a chuva através do vidro da janela. (Ou seja, o olhar atravessou o vidro da janela)
por meio de significa por intermédio de, mediante. Exemplo:

Por meio de negócios ilícitos, conseguiu enriquecer. (Ou seja, enriqueceu com a ajuda de negócios ilícitos)
O problema é que, atualmente, vem-se generalizando o emprego indevido de através de com o sentido de por meio de.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

terça-feira, 25 de outubro de 2011

"Se mostrar pouco disposto..."


Em uma famosa revista mensal encontrei a seguinte oração na matéria de capa que tratava de recolocação profissional:

“Se mostrar pouco disposto a aceitar as regras impostas”

O problema da oração transcrita acima é o uso do pronome oblíquo átono se - que, nesse caso, indica que o verbo mostrar é pronominal - no início da oração, pois a norma culta da Língua Portuguesa não admite o uso de pronomes oblíquos átonos em início de período, embora isso ocorra frequentemente na fala coloquial.

É comum usarmos na fala construções como “Me passa o grampeador”. No entanto, se fôssemos escrever essa oração, precisaríamos optar pela próclise, ou seja, pela colocação do pronome me imediatamente após o verbo. Além disso, deveríamos substituir o passa, que está na segunda pessoa do singular, pelo passe, que está na terceira pessoa do singular do Imperativo Afirmativo, e, de preferência, acrescentar expressões como por favor ou por gentileza, para tornar o texto menos autoritário e mais polido:

Passe-me o grampeador, por favor.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Entre eu e você ou entre mim e você?



A dúvida persiste: entre eu e você ou entre mim e você? Os artistas de televisão, sobretudo os que atuam nas telenovelas, parecem não ter dúvida alguma de que a expressão  correta é “entre eu e você”, mas estão redondamente enganados.

Mim e ti são as formas oblíquas tônicas dos pronomes pessoais retos da primeira pessoa do singular eu e da segunda pessoa do singular ti. Além disso, mim e ti são sempre regidos por preposição (contra mim/contra ti, de mim/de ti, para mim/para ti, sem mim/sem ti, com+mim=comigo/com+ti=contigo etc.) e exercem a função de complemento do verbo, ao passo que eu e tu não podem ser regidos por preposição e exercem a função de sujeito. Observe estes exemplos:

Comprou para mim bombons deliciosos. (Quem compra, compra algo para alguém. Comprou para quem? Para mim, objeto indireto do verbo comprar).


Dê-me uma caneta para eu corrigir as provas. (Dê-me uma caneta para quê? Para corrigir. Mas quem vai corrigir? Eu, sujeito.)


Note que, em “Dê-me uma caneta para eu corrigir as provas”, não é o sujeito eu que é regido pela preposição para, mas sim o infinitivo corrigir.

Portanto, a expressão correta é entre mim e você ou entre você e mim. Nesse caso, por uma questão eufônica, deve-se preferir a primeira à segunda.

Vale ressaltar ainda que os pronomes ele/ela, nós, vós, eles/elas, podem ser regidos por preposição, porque, além de sujeito, podem exercer a função de complemento do verbo (Ela fez um empréstimo para ele). Por isso, a expressão entre ele e mim está perfeitamente correta. 

Um abraço e até a próxima,
Sandra Helena

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Quando devemos usar o "onde"?


Encontrei em um panfleto a seguinte sentença:

"Acontece uma vez por mês, onde todos tem a oportunidade de apresentar cases, tirar dúvidas e progredir com seus projetos."

Temos aí dois problemas: primeiro, o uso inadequado do onde; segundo, a falta de concordância entre o pronome todos e o verbo tem que está no singular, mas que deveria estar no plural. Para colocá-lo no plural, basta acrescentar-lhe o acento circunflexo cuja função, nesse caso, é justamente a de distinguir a forma singular da plural. 

Vale ressaltar ainda que o anglicismo cases deveria ter sido grafado em itálico, já que não faz parte do léxico da Língua Portuguesa, ou, melhor ainda, deveria ter sido substituído por casos presente em nossa língua materna desde o século XIII, segundo datação do Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.

Quanto ao onde, ele pode ser um advérbio de lugar (Onde será a palestra?) ou um pronome relativo que equivale a em que/no qual/na qual e serve para ligar uma oração principal a uma oração subordinada adjetiva (O prédio onde moro será desapropriado pela Prefeitura). Quando exercer a função de pronome relativo, o onde precisará necessariamente se referir a um espaço físico. Caso seu antecedente não seja um espaço físico, não poderá ser usado, devendo ser substituído por seus correlatos em que/no qual/na qual, como neste exemplo:

O século em que vivemos é difícil de ser definido.

Essa é justamente a razão pela qual o emprego do onde no trecho retirado do panfleto é totalmente inadequado e compromete a coesão da sentença, afinal, uma vez por mês dá ideia de tempo e não de lugar.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Pronome relativo: o grande bicho-papão da atualidade


O parágrafo abaixo foi retirado de um cartaz colocado na quadra poliesportiva de uma famosa escola:

O preenchimento da avaliação deverá será feito de maneira consciente em que o aluno possa realmente contribuir para o propósito maior da XPTO que é o de formar grandes líderes do mercado de trabalho.

Notem que o pronome relativo em que é o elemento que compromete a coesão desse parágrafo. Para resgatar a coesão, precisamos, primeiramente, entender qual é a relação de sentido que se estabelece entre a primeira e a segunda oração. Nesse caso, a relação é de finalidade, já que o preenchimento precisa ser consciente para que/a fim de que o aluno contribua com o propósito da faculdade, certo? Portanto, para resgatar a coesão, basta substituir o pronome relativo pelo operador argumentativo adequado, que é uma conjunção subordinativa final, e o problema desaparecerá:

O preenchimento da avaliação deverá será feito de maneira consciente para que o aluno possa realmente contribuir para o propósito maior da XPTO que é o de formar grandes líderes do mercado de trabalho.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

Houveram casos ou houve casos?



Acabo de ouvir a apresentadora de um programa televisivo matinal dizer houveram casos. Por que essa construção está errada? Porque, nesse caso, o verbo haver é impessoal, ou seja, não tem sujeito (pessoa) com o qual deva concordar e, por essa razão, não pode ser usado no plural.

O verbo haver é impessoal em duas situações: quando indica passado e pode ser substituído por faz (Moro em São Paulo há vinte e quatro anos); quando é sinônimo de existir, suceder e fazer (Havia milhares de pessoas na passeata) e deve ser usado apenas na terceira pessoa do singular. Mas atenção: o fato de não pluralizar quando se referir a passado ou for sinônimo de existir não significa que não possa ser flexionado em todos os tempos verbais, desde que esteja na terceira pessoa do singular: houve casos, havia casos, haverá casos, se houvesse casos etc.

Nas locuções verbais formadas por um verbo auxiliar + haver, com sentido de existir, a regra se mantém, pois o haver “contamina” com sua impessoalidade o verbo auxiliar que o antecede.

Vale ressaltar que o verbo haver só é pessoal e concorda com o sujeito da oração quando equivale a ter: Os ladrões ainda não haviam sido capturados pela polícia (Os ladrões ainda não tinham sido capturados pela polícia).

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena