sexta-feira, 29 de junho de 2012

Diferenças lexicais entre Brasil e Portugal


Por mais Acordos Ortográficos que se assinem, para unificar a ortografia das palavras, sempre existirão diferenças lexicais entre o Português falado e escrito no Brasil, em Portugal e nos demais países lusófonos. 

Isso é facilmente compreensível, quando nos lembramos de que, em um mesmo território nacional, há inúmeras diferenças lexicais de uma região para outra: os chamados regionalismos ou dialetismos vocabulares. Se isso ocorre dentro de um mesmo país, ocorrerá mais ainda entre países distintos que compartilham a mesma língua oficial. No Brasil, a mandioca, por exemplo, é chamada de aipim ou macaxeira, esta usada no Norte e Nordeste do país. Aliás, segundo o dicionário Houaiss, macaxeira tem origem na língua tupi maka’xera que significa “mandioca mansa”, ou seja, uma mandioca que não é venenosa.

Vejamos, então, algumas diferenças vocabulares existentes entre Brasil e Portugal que anotei quando de minha primeira ida a este país:

Adeus = tchau; até logo
Antecipação = liquidação
Autocarro = ônibus
Bifanas = bife em tiras que se come no pão ou fora dele
Bolo à fatia
Cafetaria
Camião = caminhão
Camisola = camisa
Casa da sorte = casa lotérica
Casa de banho = banheiro
Comboio = trem
Churrasqueira = churrascaria
Depósito = tanque de gasolina
Doçaria
Ecrã = tela de televisão ou computador
Elétrico = ônibus elétrico
Em venda = à venda
Equipa
Escola de condução = autoescola
Fabrico próprio
Gelateria = sorveteria
Grainha = semente de uva, de tomate etc.
Lavandaria
Leitaria
Lotaria
Montra = vitrine
Paragem = ponto de ônibus, táxi etc.
Peões = pedestres
Pequeno almoço = café da manhã
Pipis = filhote de galinha
Portagem = pedágio
Rato = “mouse” de computador
Registo = registro
Snack-bar = pequeno restaurante que serve comidas rápidas
Sandes = sanduíche
Sanita = vaso sanitário
Sítio = “site”
Sultana = passas
Sumo = suco
Tapete rolante = esteira rolante
Tartes = tortas
Terramoto
Travagem = freagem
T-shirt = camiseta

Se você conhece mais alguma, dê sua contribuição, para aumentarmos essa lista.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena




segunda-feira, 4 de junho de 2012

Bacharela, comedianta e que tais


Se consultarmos o VOLP-Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que é o acervo oficial de todas as palavras da nossa língua no Brasil, elaborado pela Academia Brasileira de Letras, encontraremos alguns dos femininos contestados atualmente. Há vários pertencentes ao léxico militar, como, por exemplo, sargenta, capitã, coronela, generala, marechala. No entanto, não há feminino de soldado, cabo, tenente, brigadeiro e almirante. A forma feminina almiranta aparece, no Houaiss, com o sentido de nau na qual viaja o almirante e, no Aurélio, com o sentido de esposa de almirante. Já soldada não é feminino de soldado, mas sim sinônimo de soldo, ou seja, de pagamento, remuneração. Daí as soldadeiras, mulheres que recebiam soldo por atos sexuais, tão citadas nas cantigas satíricas trovadorescas de escárnio e maldizer. 

Além desses femininos, também são encontrados no VOLP: árbitra, bacharela, clienta, comedianta, elefanta, giganta, hóspeda, infanta, mestra, monja, parenta, presidenta, serventa, entre outros.

Por mais estranho que nos pareça, se está no VOLP, integra, indiscutivelmente, o repertório de palavras existentes na Língua Portuguesa do Brasil.

Portanto, caso se depare com algum feminino que lhe pareça estranho, antes de se revoltar contra ele, consulte o VOLP, para verificar se ele faz parte ou não do léxico de nossa língua. Para consultar o VOLP, basta acessar  <http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=23>.

Um abraço e até a próxima!
Sandra Helena

Mais um caso de pronome relativo

Veja este trecho:

“Caso contrário, por favor, após quatro dias úteis verifique em nosso Site (...) a efetivação da alteração solicitada. Assim, você já poderá pedir uma nova assinatura eletrônica que a mesma será enviada para seu novo email.”

Esse trecho é parte de uma mensagem eletrônica automática enviada ao usuário que solicitou uma alteração cadastral no programa fidelidade de uma empresa.

O problema desse texto é o uso da expressão a mesma imediatamente após o pronome relativo que. Sabemos que a função do pronome relativo que (= o qual/a qual) é retomar o termo que se lhe antecede, no caso, uma nova assinatura. Por isso, bastaria que o redator da mensagem escrevesse

“ (...) Assim, você já poderá pedir uma nova assinatura eletrônica que [= a qual] será enviada para seu novo email.”

O uso da expressão a mesma não só tornou o texto confuso, mas também redundante.

Outro problema identificado nessa passagem é o uso de letra maiúscula no anglicismo site. Por que letra maiúscula, se não se trata de nome próprio?

Um abraço e até a próxima!
Sandra Helena

segunda-feira, 9 de abril de 2012

“Pérolas” das redes sociais

Segundo um de meus alunos, o texto abaixo está circulando entre os usuários de uma famosa rede social:
“O conhecimento não pode substituir a amizade. Eu prefiro ser um idiota à que te perder.”

Na segunda sentença dessa “pérola”, temos um problema de regência verbal. Embora na linguagem informal usemos a regência “preferir uma coisa do que outra”, a norma-padrão da língua portuguesa condena o uso dessa regência. Segundo a norma culta, a regência correta do verbo preferir, com o sentido de “escolher uma pessoa ou coisa entre outras”, é “prefir uma coisa a outra”. O verbo preferir é bitransitivo, ou seja, necessita de objeto direto e indireto. Além disso, preferir pede a preposição A. Por isso, a forma gramaticalmente correta é:
(...) Eu prefiro ser um idiota a te perder. [Sem crase, pois não se usa crase antes do pronome oblíquo átono “te”.]

Ainda assim, a “pérola” postada na rede social não tem sentido algum. Por que se deve preferir a amizade ao conhecimento, se não existe qualquer relação entre uma coisa e outra? E,  justamente por não serem equivalentes, a amizade não pode substituir o conhecimento nem este pode substituir aquela.

É pena que tantas pessoas prefiram ler as redes sociais a ler os clássicos da arte literária.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

Você sabe como se chama o símbolo “&”?

O símbolo “&”, usado frequentemente em nomes de empresas ou de casas comerciais, é um anglicismo, ou seja, tem origem na língua inglesa e se chama ampersand.

Na Língua Portuguesa, é chamado de “e comercial” justamente porque equivale à conjunção coordenativa aditiva “e”.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

quinta-feira, 15 de março de 2012

Ambiguidade causada por "o(a) mesmo(a)" ou "o(a) referido(a)"


Você já prestou atenção à placa afixada na porta dos elevadores? Ela é fruto da Lei nº 9.502/97. Nessa placa, consta a seguinte recomendação:

“Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar.”

O problema dessa advertência está no uso de o mesmo que enfeia a mensagem e, em alguns casos, pode causar ambiguidade. Não se trata, portanto, de erro, mas sim uma questão de estilo. Veja como seria fácil resolver esse problema:

“Antes de entrar, verifique se o elevador encontra-se parado neste andar.”

Ou seja, para garantir a coesão entre a primeira e a segunda oração e melhorar a mensagem, bastaria retirar a expressão o mesmo e substituí-la pela palavra elevador. Assim, a recomendação que somos obrigados a ler sempre que estamos diante das portas de um elevador ficaria mais bem escrita.

Embora não seja o caso da placa do elevador, o uso de o(a) mesmo(a), além de enfear a mensagem, pode gerar ambiguidade, especialmente quando há mais de um elemento ao qual o mesmo pode se referir. Observe este exemplo que me foi enviado por um de meus alunos:

“Para que os proponentes possam captar recursos para os seus projetos usando os benefícios das leis de incentivo, é necessário que os mesmos sejam avaliados pelas comissões de análise de projetos.”

Nesse caso, não nos é possível afirmar se os mesmos se referem a proponentes ou a projetos. Afinal, as comissões deverão avaliar os proponentes ou os projetos, antes de liberar os recursos? Impossível saber!

Essa é a razão pela qual os estudiosos da língua portuguesa recomendam que expressões como o(a) mesmo(a) ou o(a) referido(a) não sejam empregadas na escrita.

Um abraço e até a próxima.

Sandra Helena

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Ambiguidade

Em uma matéria de 15/02/2012, publicada em um jornal de grande circulação na cidade de São Paulo, havia a seguinte passagem:

“Steve Jobs, cofundador da Apple que morreu no ano passado, chegou a criticar tablets de tela menor, dizendo que eram grandes demais para competir com um smartphone e pequenos demais para competir com o iPad.”

Temos aí dois problemas. O primeiro e mais importante é a ambiguidade causada pela distância entre o pronome relativo e seu antecedente (termo ao qual o pronome se refere). Da forma como está escrito, temos a impressão de que foi a Apple que morreu e não um de seus fundadores.

Para eliminar essa ambiguidade, basta fazer a seguinte alteração:

“Steve Jobs, que morreu no ano passado e foi cofundador da Apple, chegou a criticar tablets de tela menor, dizendo que eram grandes demais para competir com um smartphone e pequenos demais para competir com o iPad.”

O segundo problema diz respeito à ausência de itálico para destacar as duas palavras – tablets e smartphone - que não fazem parte do léxico da língua portuguesa. A menos que a palavra tenha sido aportuguesada, como ocorreu com estresse e tantas outras, precisamos fazer uso de itálico, quando digitarmos, ou aspas, quando manuscrevermos vocábulos de origem estrangeira.

Um abraço e até a próxima.

Sandra Helena

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

“A nível de” ou “ao nível de”?



Já se falou na televisão que um determinado jogador de futebol estava “com uma contusão a nível de joelho”. Nesse caso, o correto seria afirmar que o jogador estava “com uma contusão no joelho” e não “a nível de joelho”.

A expressão a nível de é um modismo horroroso que deve ser evitado. Pode ser substituída por em/no/na, como no exemplo acima; por locuções como de acordo com/relativamente a/no tocante a/com referência a/na esfera/no âmbito/na área (“A nível de economia, o país vai de vento em popa” por “Na área econômica, o país vai de vento em popa”); por um adjetivo (“Reunião a nível de gerência” por “Reunião gerencial”; “Resolução a nível de governo” por “Resolução governamental”); ou pode simplesmente ser suprimida em prol do português bem falado e bem escrito.

Ao nível de significa à mesma altura de/à altura de/no mesmo plano que, por isso, seu emprego na oração “Guarujá está ao nível do mar” está perfeitamente correto.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Qual é a abreviatura de “horas”?



Segundo o Quadro Geral de Unidades de Medida do INMETRO, de 2007, o símbolo ou a abreviatura para “hora” é apenas e tão somente h, com letra minúscula e sem ponto final, a menos que essa abreviatura venha em final de frase ou período. Exemplo:

O jantar normalmente é servido às 20h.

Nesse caso, o ponto que aparece imediatamente após o símbolo de horas corresponde ao sinal de pontuação (.) com que se encerra uma frase ou um período e não ao ponto que se usa logo após algumas abreviaturas.

Retomando nosso exemplo, caso o jantar tivesse sido servido às 20h30, poderíamos grafar as horas de duas formas:

O jantar normalmente é servido às 20h30.

Ou ainda:

O jantar normalmente é servido às 20h30min.

Também nesse caso, o ponto que aparece imediatamente após a abreviatura de “minuto” corresponde ao ponto final, já que, tal como ocorre em relação à “hora”, o símbolo que indica “minuto” (e mesmo o símbolo que indica “segundo”, que é apenas s) não deve vir acompanhado do ponto indicativo de abreviatura.

Não devemos, no entanto, usar dois pontos entre horas e minutos ou entre minutos e segundos, porque o uso de dois pontos corresponde ao sistema usado pela língua inglesa para separar horas, minutos e segundos (20:30:50) e não ao sistema da língua portuguesa.

Optemos, portanto, pelo nosso próprio sistema!

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena


terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Suicidar ou suicidar-se?



Embora o sui signifique de si e equivalha ao prefixo grego autós, o verbo suicidar-se sempre foi pronominal, ou seja, sempre fez-se acompanhar do pronome reflexivo se.

Para justificar a presença do pronome se em um verbo que já traz esse pronome em seu prefixo, José Maria da Costa, em seu Manual de Redação Profissional (2007), coloca duas citações de dois importantes estudiosos da língua portuguesa – Cândido de Figueiredo e Domingos Paschoal Cegalla –, citações essas que transcrevo abaixo:

“[...] em suicidar já consideramos de fato uma ação reflexa; mas como esse verbo, sem o pronome se, nunca existiu em português, pouco importam as nossas filosofias, e temos de aceitar os fatos incontestáveis da linguagem. Suicidar-se é fato corrente e constante nos vários períodos da nossa língua, e não temos que corrigi-lo. Aquela suposta redundância não é coisa insulada na história da língua.” [CF]

“a língua nem sempre se submete ao jugo da lógica.” [DPC]

Aliás, para confirmar a citação de Cegalla, basta nos lembrarmos de que, etimologicamente falando, o sentido do vocábulo caligrafia é boa letra, bom estilo e nem por isso é incorreto ou redundante falar ou escrever Ele tem um boa (ou bela) caligrafia, visto que se perdeu por completo o sentido etimológico dessa palavra.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

Mega-sena ou megassena?



Segundo as novas regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, em vigor no Brasil desde 1º de janeiro de 2009, o vocábulo megassena deveria ser grafado sem hífen e com dois s, já que, pela nova regra, as palavras cujo primeiro elemento termina em vogal e o segundo começa com s ou r devem perder o hífen e ter o s ou o r dobrados. No entanto, até hoje, os volantes disponíveis em todas as casas lotéricas do país continuam a apresentar a grafia antiga.

Embora saibamos que, no Brasil, teremos até 31 de dezembro de 2012 para adotarmos as novas regras do Acordo, já não é sem tempo de a grafia de megassena ser atualizada.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

“Absolutamente” é positivo ou negativo?


A maioria das pessoas acredita que o advérbio de modo absolutamente tem significado positivo em português e negativo em inglês. No entanto, relativamente à língua portuguesa (já que a língua inglesa foge do escopo deste blog), não é tão simples assim. Ao contrário do que se imagina, em português, absolutamente não é sinônimo da expressão de forma nenhuma. Uma simples consulta ao Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa versão 2009.3 revela que esse advérbio também pode adquirir os significados afirmativos de sem dúvida que sim ou certamente que sim.


Segundo o Dicionário de Questões Vernáculas, de Napoleão Mendes de Almeida (Caminho Suave, 1981), jamais se deve interpretar que esse advérbio, por si só, indica uma ideia de negação ou de afirmação. Seu uso deve adquirir um sentido confirmativo da ideia de negação ou de afirmação que o antecede. Quando, no entanto, seu uso não esclarecer o sentido em que está sendo empregado, deve-se acrescentar-lhe alguma palavra ou expressão negativa ou afirmativa que torne claro o seu sentido. Exemplos:

Absolutamente não.

Ou mesmo:

Absolutamente sim.


Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

“O menino foi apreendido pela polícia”?


Assistindo a um programa de televisão exibido todas as manhãs, ouvi, pela enésima vez, de um repórter a seguinte afirmação:

“O menino foi apreendido pela polícia.”

“Apreendido” ou preso/capturado/aprisionado/encarcerado pela polícia?

O verbo apreender pode ser usado para significar assimilar mentamente, pegar (objetos), inquietar-se, confiscar (objetos). Não se refere, portanto, à captura de pessoas, mas sim à apreensão de objetos. Pessoas não deveriam ser apreendidas como mercadorias, mas sim presas ou capturadas. No entanto, nesse caso, o uso do verbo apreender em substituição aos verbos prender/capturar deve-se ao fato de que, segundo o ECA-Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990), o menor não comete crime, mas sim ato infracional análogo a crime, sendo assim, não se pode dizer que o menor foi preso ou capturado, mas apenas que foi apreendido. De qualquer modo, a terminologia adotada pelo ECA é bastante infeliz.
  
Outra “pérola” que tomou conta da mídia televisiva é o uso do verbo aparecer na forma reflexiva:

“Fulano fez isso para se aparecer.”

Ocorre que o verbo aparecer, com o sentido de mostrar-se/fazer-se notar/brilhar, definitivamente não é reflexivo e, além disso, é intransitivo, ou seja, não necessita de objeto direto nem indireto:

“Ela faz tudo para aparecer.”

Não sei quem foi o primeiro que usou essas “pérolas”, mas compete a cada um de nós, amantes do vernáculo, evitar que essas pragras se espalhem por aí.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Crudivorismo


Você sabe o que é crudivorismo? É o nome que se dá ao comportamento do crudívoro, ou seja, da pessoa que prefere ou aprecia alimentos crus. Há inclusive vários livros sobre essa prática.


Já que estamos falando de hábitos alimentares, você sabe o que é vegano(a)? Do inglês vegan, que é uma curruptela de vegetarian, o veganismo é mais uma filosofia de vida do que um hábito alimentar, pois se baseia no direito dos animais irracionais  - ou animais não humanos, ou sencientes (os quais percebem pelos sentidos), como preferem chamá-los. Segundo a Wikipédia, o termo foi criado em 1944 por um grupo dissidente de vegetarianos que, por razões ideológicas, decidiram romper com a The Vegetarian Society e fundar a The Vegan Society.

Vegano(a) é, portanto, o nome que se dá ao vegetariano que se abstém de quaisquer produtos (alimentares ou não) de origem animal, incluindo gelatina, queijos, ovos, mel, peixe, entre outros. Relativamento a alimentos, os veganos consomem apenas cereais, frutas, legumes, hortaliças, algas, cogumelos ou outros alimentos, industrializados ou não, que não contenham quaisquer ingredientes de origem animal.

Vale ressaltar, no entanto, que vegano e veganismo ainda não fazem parte do VOLP – Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela Academia Brasileira de Letras, nem da última versão do Dicionário Houaiss, versão essa publicada em 2009 e atualizada segundo as novas regras ortográficas. Isso significa que, oficialmente, esses dois vocábulos ainda não fazem parte do léxico da língua portuguesa. Somente depois de passarem por uma espécie de "quarentena", ou seja, por um período considerável de tempo que determina se os vocábulos foram incorporados à língua ou se não passaram de modismos, eles serão dicionarizados.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Mais ou mas?


Recebi uma mensagem eletrônica com a seguinte sentença:

“A despedida não é o fim de uma amizade, mais o começo de uma grande saudade.”


Quem escreveu essa sentença pela primeira vez, visto que ela aparece em diversos sites, confundiu mas, conjunção coordenativa adversativa, com mais, que corresponde a várias classes de palavras.

A conjunção mas equivale a porém, contudo, todavia, entretanto e serve para ligar ideias opostas. Exemplo:

Os alunos não estudaram para a prova, mas tiraram boas notas.

Já o mais pode corresponder às seguintes classes gramaticais:
a) advérbio, quando for antônimo de menos ou puder ser substituído por acima de ou antes;
b) substantivo, quando antecedido de artigo;
c) pronome, quando der ideia de maior quantidade ou puder ser substituído por outros;
d) preposição, quando puder ser substituído por com)
e) conjunção, quando der ideia de adição e, por essa razão, puder ser substituído pela conjunção coordenativa aditiva e.

Vejamos alguns exemplos de sua utilização:

Hoje, corrigi mais de 200 provas. (advérbio)

Preciso cuidar da saúde, o mais pode esperar. (substantivo)

Preciso de mais dinheiro para comprar minha casa. (pronome)

Ele mais a noiva viajarão no feriado. (preposição)

Dois mais dois são quatro. (conjunção)

Portanto, a forma correta da sentença que me foi enviada por e-mail é:

“A despedida não é o fim de uma amizade, mas o começo de uma grande saudade.”

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

“Rapazes sem banheiro”?



Um colega viu uma placa com os seguintes dizeres:

"Aluga-se quartos para rapazes sem banheiro”.

Temos aí dois problemas: a falta de concordância e a ambiguidade. Aliás, é justamente a ambiguidade que a torna tão divertida. Rapazes sem banheiro?

Essa oração está na voz passiva sintética. A voz passiva pode apresentar-se na forma analítica ou sintética. Colocando essa oração na voz passiva analítica, temos:

Quartos são alugados para rapazes.

Nessa oração, o sujeito é quartos. O que são alugados? Quartos. Para rapazes é o objeto indireto. São alugados para quem? Para rapazes.

Para transformarmos a voz passiva analítica na voz passiva sintética, é muito simples: devemos desconsiderar o verbo auxiliar (ser/estar) e acrescentar ao verbo principal o pronome apassivador se. O verbo auxiliar servirá apenas para indicar o tempo/modo (são = presente do indicativo) e o número (são = plural) do verbo principal que constituirá a voz passiva sintética.

Portanto, para corrigirmos a falta de concordância do exemplo, basta colocarmos o verbo no plural, fazendo-o concordar com seu sujeito: Alugam-se quartos que equivale à forma passiva analítica Quartos são alugados.

Já a ambiguidade de rapazes sem banheiro seria perfeitamente evitada com o simples deslocamento da expressão sem banheiro. Se essa expressão vier imediatamente após a palavra quartos, a ambiguidade desaparecerá. Veja: 

Alugam-se quartos sem banheiros para rapazes.

Um abraço e até a próxima.

Sandra Helena

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Cujo ou no qual?


No jornal da Globo de 15/11, o presidente de um conselho de pesquisa disse o seguinte:

"São todos temas de pesquisa na qual a solução está diante de nosso olhos."

Mais uma vez o problema é o mau uso do pronome relativo que compromete a coesão da sentença. Nesse caso, o autor da frase deveria ter usado o cuja e não o na qual, porque este faz referência ao termo antecedente, e aquele faz referência ao termo consequente, ou seja, ao termo que vem imediatamente depois dele. Como esses dois pronomes relativos são excludentes, quando se usa um, não se pode usar o outro.

O cujo (ou cuja) deve ser usado sempre que houver uma ideia de posse. No exemplo, há essa ideia de posse, pois a sentença se refere à solução da pesquisa. A preposição da indica o possuidor (da pesquisa) e a coisa possída (solução). 

Além de indicar posse, o cujo precisa ter antecedente e consequente diferentes e jamais deve ser seguido de artigo definido (o(s), a(s)), porque já traz esse artigo (cujo, cuja) dentro de si.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

domingo, 6 de novembro de 2011

Onde ou aonde?


Qual é a diferença entre onde e aonde? A diferença é a seguinte: o onde, além de pronome relativo, pode ser um advérbio interrogativo usado em interrogações diretas ou indiretas. Exemplos:

Onde é a saída? (interrogativa direta)
 Gostaria de saber onde ficarei hospedada. (interrogativa indireta)

Já o aonde, embora também seja um advérbio de lugar, equivale a expressão para onde e deve vir acompanhado de um verbo de ação que indica movimento. Exemplo:

Aonde você vai?

Observe que é perfeitamente possível substituir o aonde por para onde:

Para onde você vai?

Mas, se retomarmos os dois primeiros exemplos  - Onde é a saída? e Gostaria de saber onde ficarei hospedada -, notamos que, nesses casos, não podemos substituir o onde por para onde, sob pena de comprometermos o sentido das duas orações. Observe como elas ficariam completamente sem sentido:

Para onde é a saída?
Gostaria de saber para onde ficarei hospedada.

Portanto, quando quisermos atribuir o sentido de para onde, devemos usar aonde e não onde.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

sábado, 29 de outubro de 2011

Bom dia, boa tarde, boa noite em e-mail



Atualmente, generalizou-se a prática de iniciar um e-mail com bom dia, boa tarde ou boa noite. Parece que as pessoas não se deram conta de que o emissor da mensagem não tem domínio sobre o horário em que sua mensagem será lida pelo receptor. Este pode ler uma mensagem enviada pela manhã à tarde, à noite ou mesmo de madrugada, e, nesse caso, o cumprimento do emissor não lhe fará qualquer sentido. Justamente por essa razão, é totalmente inadequado começar uma mensagem eletrônica por bom dia, boa tarde ou boa noite.

As pessoas que usam esse tipo de cumprimento em e-mails argumentam que o fazem para serem educadas. Ocorre que a polidez na comunicação escrita não é garantida pela presença ou ausência desse tipo de cumprimento, mas sim pela utilização de expressões ou fórmulas de etiqueta linguística como por favor, por gentileza, se me permite etc.; de verbos como achar, acreditar, pensar, parecer etc.; de advérbios de dúvida como provavelmente, talvez, quiçá, por ventura, eventualmente, empregados, na maioria das vezes, com verbos no modo subjuntivo.

Aliás, a combinação dos advérvios de dúvida com o subjuntivo ocorre porque esse modo verbal tem justamente a finalidade de expressar dúvida, desejo, hipótese, subjetividade, ao contrário do indicativo que expressa certeza e objetividade.

Então, como introduzir uma mensagem eletrônica? É simples: comece pelo nome da pessoa a quem a mensagem é dirigida, acompanhado ou não dos adjetivos Prezado(a) (ou Prezado Sr./Prezada Srª) ou Caro(a) (ou Caro Sr./Cara Srª), dependendo do maior ou do menor grau de intimidade que houver entre você e seu destinatário, bem como do grau de formalidade de sua mensagem.

Portanto, evite iniciar mensagens eletrônicas com bom dia, boa tarde ou boa noite, pois esse é mais um vício de linguagem totalmente disparatado como outros tantos que se espalham como praga pelo Brasil.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

“Através de” ou “por meio de”?



Não são poucas as pessoas que têm dúvida em relação ao emprego do através de e do por meio de. É simples: através de exige sempre a preposição de e significa por dentro de, de um lado a outro, pelo meio de, por entre, devendo ser empregado apenas quando se deseja remeter à ideia de atravessar de um lado a outro. Exemplo:

Olhou a chuva através do vidro da janela. (Ou seja, o olhar atravessou o vidro da janela)
por meio de significa por intermédio de, mediante. Exemplo:

Por meio de negócios ilícitos, conseguiu enriquecer. (Ou seja, enriqueceu com a ajuda de negócios ilícitos)
O problema é que, atualmente, vem-se generalizando o emprego indevido de através de com o sentido de por meio de.

Um abraço e até a próxima.
Sandra Helena